Como contei por aqui quando comecei a trabalhar, nos cursos que fizemos sobre o mundo de trabalho no Québec, sempre se destacou a importância da autonomia do empregado. Em linhas gerais, a idéia é que para se conseguir um trabalho (e mantê-lo) é preciso ser autônomo, ou seja, dar conta das suas tarefas o mais rápido possível. Isso porque os seus colegas e mesmo o seu chefe simplesmente não têm tempo para te ajudar porque eles já trabalham no limite. Assim, para o empregador, pode não valer a pena treinar alguém por muito tempo, até porque não existe nenhuma garantia de que o novato não vá resolver mudar de emprego logo e o investimento de tempo e energia não dê retorno.
Eu resolvi revisitar o tema autonomia no mundo do trabalho no Québec depois de treinar a pessoa que vai me substituir no trabalho durante a minha licença maternidade. Eu anunciei a minha gravidez no fim de setembro e no começo de novembro essa moça já tinha sido entrevistada e escolhida para me substituir. Ela foi indicada pela chefe de um outro departamento e já tem alguns anos de experiência em contabilidade. Mesmo assim, resolveram que seria bom que ela começasse no final de janeiro para que eu pudesse treiná-la direitinho (o que eu estranhei, considerando que o meu treinamento foi de 2 semanas).
A moça é quebeca, na faixa dos 40 anos e é muito simpática e agradável. Mas não precisa passar muito tempo com ela para perceber que ela tem dificuldade para se organizar e se concentrar. Meu último dia de trabalho foi sexta-feira e ela ainda não estava à vontade para executar as tarefas mais básicas do cargo. Ela até faz, mas geralmente pula uma etapa e alguma coisa fica faltando ou dá errado no final.
Eu me considero uma pessoa bem paciente e tenho facilidade para ensinar. Fiz tudo o que eu podia para que ela pudesse executar todas as minhas tarefas tão bem quanto eu ou melhor, mas sei que não fui bem sucedida na minha empreitada. Depois de um mês e 3 semanas, ela ainda não é autônoma.
Percebendo lá pelas tantas que ela tinha bastante dificuldade, acabei conversando com algumas colegas e, por fim, com a minha chefe sobre o assunto. O que me disseram é que a pessoa que estava antes de mim (que trabalhou lá por mais de 10 anos) também era assim. Segundo o que me disseram, a moça que me treinou chegou a falar com a minha chefe que achava que eu não estava entendendo nada porque eu nunca perguntava. A minha própria chefe me contou que só se convenceu de que eu realmente tinha entendido como fazer as minhas tarefas quando percebeu que não teve nenhuma dificuldade para fechar o mês contábil no meu primeiro mês de trabalho.
Resumindo, todo mundo do departamento percebeu que a minha substituta ainda está um tanto enrolada e que ela vai deixar a desejar em vários aspectos, mas parece haver um consenso de que é assim mesmo e há pouco ou nada que possa ser feito.
Com tudo o que vi e ouvi, acabei percebendo que autonomia não é um requisito (como fizeram parecer nos cursos sobre o mundo de trabalho no Québec) mas uma qualidade bastante valorizada até porque um tanto rara.
valorizada realmente!
Como enfermeira eu vivi situaçoes que para as colegas locais beiravam o caos total, mas para quem estudou fazendo estagio no Hospital das Clinicas de SP era brincadeira de criança. Acho que nesse ponto temos a vantagem, on se débrouille très bien!!!
:-)
boa licença maternidade
(eu trabalho em perinato, voce recebera a visita de uma enfermeira em sua casa quando deixar o hospital – adoro essa parte do trabalho!)